segunda-feira, 25 de junho de 2007

Reflexões aquáticas

Horas e horas dentro d'água, indo e voltando, indo e voltando, indo e voltando. Essa é a vida dos nadadores. Quem nunca treinou de verdade, não sabe do que eu estou falando. Por outro lado, os nadadores (de agora e do passado) não precisarão de muito para reviver a sensação de atravessar piscinas e mais piscinas tendo como companheira inseparável a faixa preta de azulejos no meio da raia.

A vida de um nadador se resume a uma seqüência de números: quantas vezes ele deve percorrer os 50 metros para completar uma determinada série, qual é o intervalo de tempo em que tal série deve ser cumprida, quantos segundos (sim, queridos, segundos!) sobrarão para o descanso entre uma série e outra, qual é o tempo a ser alcançado, qual foi o seu melhor tempo e quão distante ele está do índice que irá levá-lo a mais uma competição, qual é o tempo dos seus principais competidores... números, números, números, numa seqüência infinita.

Comecei a nadar antes de completar 4 anos pela mesma razão de muitos outros nadadores: bronquite asmática. Competi pela primeira vez quando tinha 6 anos. Não estava nem dentro da categoria mais baixa (é preciso ter 7 anos para ser "mirim"), mas já começava a aprender, dentro d'água, uma lição que tem se mostrado bastante útil ao longo da minha vida: na vida, você só conta é com você mesmo. Então, é bom que esteja preparado para o que der e vier. No caso da natação, só está preparado quem treina. E treinamento é repetição exaustiva. O que, no caso de uma pessoa obsessiva, pode ser uma aflição!

Depois de 22 anos longe das piscinas, voltei a elas há 2 anos. E bastou pular dentro d'água para os comportamentos obsessivos voltarem todos. Quem diz que consegue resolver seus problemas nadando, porque o isolamento é perfeito para a reflexão, deve ser abençoado. Comigo, o que acontece é algo bem mais perturbador. Minha cabeça é invadida por pensamentos repetitivos, pedaços de música, frases soltas, que vão e voltam, vão e voltam, por mais que eu tente afastá-las. Já passei um treino inteirinho repetindo, mentalmente, o nome de um disco de Fagner: Manera, Fru-fru, manera! Alguém faz idéia do que significa repetir essa bobagem por uma hora?
Hoje foi dia de várias perturbações: primeiro, constatei que as bandeirinhas do fundo da piscina não estavam divididas igualmente.

Sim, queridos, eu sou obsessiva, fazer o quê? Cada vez que eu virava, de costas, constatava que havia, da direita para a esquerda, uma seqüência de 5 – 4 – 5 - 6 bandeirinhas; depois o número era 5 até o final. Claro que, para minha mente perturbada, o correto seria 5, 5, 5, 5... Como não havia nada que eu pudesse fazer (e seria ridículo falar com o treinador sobre isso), passei a contar os nadadores pintados na parede.

Teve início, então, outra agonia. Porque eu gosto de números pares. E há 27 nadadores pintados na parede. 27 é um absurdo total! Para resolver o impasse, fiz o que costumo fazer nos casos de contagem que resultam em números ímpares: somei 1 (o conjunto de nadadores) aos 27 nadadores individuais e cheguei ao reconfortante total de 28. Par! Moving on...

Aí foi a vez do Sugarland. Quando fui para a natação, estava ouvindo a música April Showers. Pronto! Foi o que bastou! Não sei quantas vezes, ao longo dos 1500 metros que eu nadei hoje, cantarolei: Looking for an angel in these hills / Looking for a map to find what we left behind / Knowing that we will / Always end up right where we start / Cause I got time on my hands and hope in my heart / We both understand we weren't meant to be apart / April showers bring May flowers / I have seen rain before…

Gente, tem horas que nem eu mesma me agüento.

Mas quarta-feira tem treino e estarei lá, novamente, contando nadadores pintados e bandeirinhas, cantando alguma música que vai se repetir infinitamente... E adorando!

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9 comentários:

Unknown disse...

Eu entendo isso... Não tenho a sua insistência, mas me pego contando azulejos quando nado também. É.. acho que o comportamento obsessivo pode ser genético!

Essas coisas de obsessão são estranhíssimas...

Unknown disse...

NUMB3RS ! ;)

DIVA Sen disse...

Genético e meandívico. Eu tb tenho as minhas e não nasci Abaurre.
Aliás, próximo post resulta não propriamente de uma obsessão, mas uma mera mania, talvez.

Anna L Horta disse...

Talvez esta sejam mais duas manias de Divas: contar e gostar de números pares!!!

Eu não nado, logo não conto azulejos mas conto tantas outras coisas.... E conto inúmeras e repetidas vezes embora já saiba, há muito, quantas unidades há

Flower Nakamura, ME disse...

Agora vc precisa voltar e matar a nossa curiosidade: quais são as unidades que você conta??????????

Unknown disse...

Minhas unidades tendem ao 0 ultimamente, todas elas...

Estou curiosa também! Que tipo de unidades a Royal Diva conta ???

DIVA Sen disse...

Gente, gente... Ela conta DIVOS!
E tb trubufus, unfortunately...

Anna L Horta disse...

Great Sen!!!

Conto também grades de janela; poltronas de avião entre a minha e a porta (tem correlação com o monte de trubufus lerdos que ficarão no meu caminho ;-); copos vazios sobre a mesa vizinha (na piscina do clube)

Sen, o que você conta??

Flower Nakamura, ME disse...

Olha que eu conto muita coisa, mas copos vazios na mesa ao lado nunca foi uma delas!!! Realmente, no quesito "preculiaridade", acho que a Royal Diva vai ganhar de mim.
Já pensaram a catástrofe que seria se resolvêssemos, de uma hora para a outra, contar os trubufus que vemos diariamente? E as antas furibundas que cruzam o nosso caminho? O número seria beeeeeeeeeeeeeee alto...