terça-feira, 20 de novembro de 2007

E os cajus, são símbolo de quê???

I'm back!!!

Saudades do blog, saudades desses diálogos que mantemos por aqui com nossos leitores imaginários e com outros leitores não tão imaginários assim...


Estive em João Pessoa, bela capital nordestina onde eu moraria feliz. Fui a um encontro sobre...vogais (coisas de lingüistas malucos, dirão alguns, mas a gente se diverte discutindo essas coisas, rsrsrs...), onde apresentei um trabalho, junto com uma colega, sobre... a geometria de traços da vogal /a/ (já comentei, em post anterior -
Por Júpiter! -, as belas visões que a busca pela melhor geometria de traços distintivos dos segmentos nos pode proporcionar...) !!!

Voltei impregnada de belas imagens e sensações: o mar muito verde, o pôr-do-sol indescritível, o vento quente, pés na areia, chuva no rosto durante caminhadas matinais, práticas de yoga e...cajus, muuuuuuuitos cajus vermelhos e suculentos, que eu pegava no pé, colado no muro de casa.


Pois é. Cajus... Depois do post da Diva Flower sobre o mamão e a propósito da boa polêmica que está suscitando, não pude deixar de indagar: e o caju, pode ser símbolo de quê???? O que vou(vamos) ver/imaginar ao olhar um caju??? Well.. uma possibilidade interessante: NADA!!! É possível não ver nada em um caju, além de... um suculento caju!!! (Assim podemos comê-lo na santa paz, rsrsrs...)


Sugiro que fiquemos, pois, com Fernando Pessoa (na voz de seu heterônimo Alvaro de Campos):

Álvaro de Campos

Símbolos

Símbolos? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo,
Todos me dizem nada.

Quais símbolos? Sonhos.
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...

Que a terra seja um símbolo, está bem...

Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas,

Para o azul do céu?

Mas quem repara na lua senão para achar

Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?

Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,

Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...

Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,

Mas neste poente precoce e azulando-se

O sol entre farrapos finos de nuvens,

Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,

E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina

Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?

Símbolos? Não quero símbolos...

Queria — pobre figura de miséria e desamparo! —

Que o namorado voltasse para a costureira.

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3 comentários:

Flower Nakamura, ME disse...

Acho melhor não me pronunciar sobre frutas e símbolos... ;)
Continuo lendo o poema, sabendo que é de Álvaro de Campos, e achando que devia ser de Alberto Caeiro.
Acho que Pessoa, de vez em quando, perdia um pouco o controle das "personas" de seus heterônimos.

Berná disse...

Com certeza, Flower!!! Quando saí em busca deste poema, tinha quase certeza de que era do Alberto Caeiro.... Enfim, controlar as características de tantos heterônimos, além das próprias, não deve ser moleza, né???? Nem pro Fernando Pessoa...

filomena disse...

E mais incrível é que nossa vogal debucalizada foi um sucesso! Que poema lindo. Também queria. Fica, então, um grito debucalizado /aaaaaa/. :)