Faz já 12 anos que perdi meu pai. 12 anos de saudades que se transformaram em uma companhia constante e me ensinaram a conviver com a falta. Mas hoje é dia dos pais e aí a saudade aperta um pouco mais.
Eu tive um pai diferente dos meus irmãos. Última filha, nasci quando meu pai já tinha 54 anos... era, portanto, um homem bem diferente daquele que acompanhou o crescimento dos primeiros filhos. Uma doença cardíaca que chegou quase junto comigo fez com que ele se tornasse mais calado, mais taciturno.
Cresci com a imagem de um pai exigente, austero, que se preocupava muito com os gastos, que me lembrava a todo instante que eu não era “filha de Matarazzo” (ele era da época em que os Matarazzo eram símbolo de riqueza...), que me ensinou que existem, sim, valores absolutos, como verdade, respeito, responsabilidade, que não cansava de me dizer que uma boa educação era o que ele poderia “deixar” para mim.
Meus irmãos falam de um pai mais alegre, que gostava de festas, brincava carnaval... não conheci essa pessoa. Meu pai era um homem bem mais sério, certamente mais doente e cansado. Mas continuava a ser totalmente dedicado à família.
Foi ele quem me descortinou o mundo da fantasia com as inúmeras histórias de baleias e gaviões que inventava para mim. Também me ensinou a valorizar os bons romances, lendo para mim, depois do almoço, as histórias de Laura Ingalls Wilder (Uma casa na campina, Uma casa na floresta, Às margens da lagoa prateada e tantos outros).
Esse homem sério ficava realizado quando assinava meus boletins escolares (uma colega de trabalho dele me contou, no velório, que ele tirava xerox dos meus boletins para mostrar aos amigos) e muito feliz quando, nas competições de natação, era chamado para me entregar alguma medalha.
Nesses 12 anos de ausência eu descobri que muito do meu pai existe em mim. O senso de responsabilidade implacável, a autocrítica impiedosa, a necessidade de projetar uma imagem profissional de correção e seriedade. Tudo isso eu herdei dele ou aprendi com ele.
Sinto muita saudade do meu pai. Saudade de conversar com ele, de ouvir as perguntas de sempre. Posso imaginar que ia me perguntar pelo trabalho, que ia comentar, em tom de brincadeira, que “trabalho é bom, mas cansa!”. Gostaria de ver a sua reação ao ter em mãos os livros que escrevo. Acho que ia ficar orgulhoso e, provavelmente, lembrar daquela menina que, ainda bebê, já era fascinada pelas teclas da sua máquina de escrever ... Sphere: Related Content
3 comentários:
Putz, Diva flower!!! Incrível sua capacidade de mexer com o nosso coração... de repente, neste dia dos pais, me deu também uma saudade enorme do meu pai, que está sempre comigo, mas com quem agora só consigo manter diálogos virtuais...
Thanks, thanks... :-(
BTW, eu A D O R O está foto!!!
Claro que já revelava muito sobre você, Flower!!! (também, vivendo cercada, desde cedo, por fanáticos por livros e por escrita,qual teria de ser o resultado??? rsrsrs...)
Eu também aqui,no dia de hoje, senti muita falta dele. Esta coisa de dia dos pais parece ser feita sob medida prá fazer sofrer quem não tem mais pai. Mas não ter mais pai não é a expressão correta. Acho que esteria sendo injusta se assim dissesse.
Eu, por exemplo herdei muito dele. De bom , isso que a flower mencionou, e além disso o fato de ser vascaína doente! Aliás, se há algo que me faz falta é assistir à jogos de futebol com o meu pai: assistíamos ao que estivesse disponível na TV e ele, sempre que se desagradava de algum jogador, exclamava - "ANIMAL" ! ;) . Pois é, acho que depois que ele se foi eu perdi um bocado a graça de assistir futebol...
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