... A cidade era governada pelas marés. E as marés eram mandadas por pássaros. Assim se dizia. Um passarito cinzento chamava a enchente. Outro, maior, de asas brancas, convocava a baixa-mar. Me encantava essa crença, o poder de singelas criaturinhas comandarem o imenso oceano.
[...]
Agora, em meu sono, já não há paisagem sem mar. [...] O passado é um litoral onde tudo se converte em espuma. E a minha cidade é feita de maresia e espuma.
Mia Couto. “Águas do meu princípio”. Pensatempos. Lisboa: Caminho, 2005. p. 145-154
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3 comentários:
Liiiiiindo! Cada vez gosto mais dos textos do Mia Couto... Às vezes penso que só pessoas assim deveriam ter o direito de escrever em certos gêneros...
Thanks pela bela citação!!!
Uiiii, que bonito... A língua portuguesa BEM USADA realmente é algo , não é mesmo ?
Pois é, Diva W... Textos assim nos fazem pensar que tem gente que deveria ser proibida de abrir a boca em português...
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