sexta-feira, 20 de julho de 2007

"A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua"

Andei afastada do Mean Divas nos últimos dois dias. Fui nocauteada por um rotavírus, que me deixou de cama, completamente sem condições de encontrar o que dizer diante do horror que tomou conta de nós na terça-feira à noite.

Para melhorar a minha situação, meu computador morreu. Os especialistas acham que foi a bios da placa mãe. Pode ser. Para mim, morreu, já que não posso mais ter esperanças de utilizá-lo para o que quer que seja...

O fato é que o rotavírus e o computador me silenciaram em um momento em que, se não temos nada de original para dizer, devemos ao menos procurar palavras que expressem a nossa estupefação diante do escárnio que reina absoluto no país. Não preciso explicar do que estou falando, porque o post de Berná já traz o link para o vídeo em que um ministro de estado expressa com gestos eloqüentes o que têm sido a principal função do governo que ele representa em relação ao povo que os elegeu. Nessa hora não adianta dizer que não contaram com o meu voto, mas é sempre bom deixar isso publicamente declarado, porque, democracia à parte, não há como respeitar essas pessoas que não mostram um pingo de sensibilidade pela tragédia que vitimou centenas de brasileiros.

Como diria o poeta Drummond,


Este é tempo de partido
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
[...]

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

C. D. de Andrade. "Nosso tempo". Em: Antologia Poética. SP: Record, 2001. p. 160-161.

E, lembrando dos versos de Drummond, acabei recordando outros versos de sentido próximo, que cabem bem para descrever o absurdo momento vivido por nós. No próximo post vocês verão por que eles traduzem tão bem o vazio em que nos encontramos.

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Um comentário:

Unknown disse...

Ótimo post, flower!!! E o poema de Drummond também parece feito sob medida para esses tempos que vivemos...