Despertador

Faz já umas duas semanas que eu tenho a sensação, em meio às brumas do sono, de ouvir um despertador no meio da madrugada. Tenho ouvido de tuberculoso, como se diz, e ouço tudo: os barulhos do prédio ao lado, as garagens que apitam quando abrem, as discussões dos vizinhos de trás, as crianças que brincam no playground. Uma praga!

Como o barulho do despertador, porém, era uma daquelas sensações vagas, que a gente nunca sabe bem se fazem parte do sonho ou da realidade, a coisa foi ficando assim mesmo. Até que…

Até que aconteceu o inesperado: descobri, da pior forma possível, que o despertador do sonho era real e estava tocando às 4h30 da madrugada!

Em noites de inverno, é inevitável ir ao banheiro. Quando isso acontece, tento despertar o menos possível. Mantenho a luz apagada e volto correndo para debaixo das cobertas quentinhas e acolhedoras.

Só que, para meu azar, o desgraçado do despertador desandou a tocar quando eu estava no banheiro. Aí, não teve jeito. Tive de sair pela casa “caçando” o miserável, para desligá-lo.

A cena deve ter sido digna de ópera bufa. Eu, míope como uma porta e sem óculos, concluí que o barulho vinha da mesa do escritório. Fui até lá, mas resolvi não acender a luz (ou colocar meus óculos), para tentar minimizar a desgraça e preservar o sono. Aí, aproximei o rosto o máximo possível da mesa até quase trombar com o nariz no despertador.

Nessa altura do campeonato vocês devem ter concluído o óbvio: eu estava mais do que acordada. Por que, então, não acendi a luz? Para não acordar o cachorro, é claro! Se isso acontecesse, aí sim é que eu não teria mais sossego.

Voltei para o quarto, coloquei os óculos, acendi a luz e desliguei o despertador. Tinha sido um “presente” da minha querida sobrinha, que, para não perder um avião, colocou todos os despertadores que encontrou para tocarem às 4h30 da madrugada. No dia da viagem, acordou na hora desejada e foi embora, deixando todos os despertadores ligados. Eu e minha irmã desligamos os que encontramos. Ficou faltando esse, evidentemente.

Será que eu preciso dizer que não consegui dormir novamente?

Às vezes tenho a sensação de que essas coisas só acontecem comigo…

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